18/12/2004

ferimentos superficiais:

a) repare no canto da boca dele. Como eu costumava me esconder ali. Meu pai e seus brinquedos perigosos, nos cantos, sempre nos cantos, quando eu atravessava as paredes e ele gritava. Reparando os segundos perdidos, sob a mesa de mármore, quando o teto da sala costumava cair - ali onde eu ficava protegido.

Recolhendo os brinquedos do chão da sala. Um caminhão vermelho e um carro amarelo. Sempre que eu ficava tonto, porque acho que sempre era cíclico, tudo era cíclico, completo - mentira que eles me narraram no segundo grau.

Dessa vez e para sempre: meus ferimentos vão ser superficiais. Eu não posso mais perder sangue.



15/12/2004

estacionado no canto dos meus olhos:

ela, no shopping
[quem somos nós para ditar os ditados? quem sou para ter tanta certeza assim?]

levanta
diga-se pela passagem
eu me levanto
arrasta essa cadeira
esse vento
limpa essa porra

entregue-se numa bandeja,
meu amor
e esses abutres - e esses urubus

mas quando eu caio
quando eu me arrebento
quando eu engulo tanta água
salgada

[desse barco que já me deixou - corre pra pegar o ônibus que já me deixou - deixa que ele vai me]
dissecando no escuro cada pele cada corte cada canto que eu cato meu nos cantos onde eu não me deito só pra provar. só pra me arrastar. mas não, sempre um não, quando o chão vai se abrir, querido, se a tendência é a salvação através que não salva e nem poderia. quando eu vou encostar em você e não te pegar?

esquece.
só um bilhete na geladeira.
00:00

[fui dormir ontem]